
A idéia não é endeusar a mãe de Jayme Monjardim, não. Se nem ele está fazendo isso, não serei eu a doida aqui. Maysa era, como parece ter dito Ronaldo Bôscoli, mimada mesmo. Era imatura, intransigente e auto-destrutiva e nada disso é digno de se louvar. Mas era uma apaixonada. E uma transgressora. Botou a cara a tapa para que nós, hoje, tenhamos, por exemplo, o direito de decidirmos nossa vida amorosa e sentimental sem interferências. Abriu mão de um casamento apaixonado e milionário para, mesmo que inconscientemente, provar que nossa independência era um caminho sem volta. Usou o talento e o sucesso para dar passos importantes para nós. Mostrou ao mundo o que é ter estilo.

O lado triste dessa história é perceber, a cada capítulo, que toda essa irreverência e transgressão vinham acompanhadas de imensa angústia e solidão. E mais triste do que notar que Maysa pagou com infelicidade, é saber que esse roteiro ainda se repete. E muito. Quantas de nós não sucumbimos à tristeza diante da incapacidade de se conciliar tudo o que desejamos e acreditamos que é preciso para ser feliz? Quantas de nós ainda caímos na armadilha de que é possível se realizar sem fazer concessões? Foi só Maysa ou faz tempo que a gente sofre por não conseguir abraçar o mundo? E quando a gente fica numa busca incessante de sei lá o quê?
Não sei, não, mas acho que a gente tem bastante a aprender na frente da TV esses dias. Nem que seja a lição de que marido milionário, com sobrenome e apaixonado, não é coisa que se dispense, e sogra chata a gente tem que aprender a lidar. Ou que cabelão, caftan (aquele vestidão tipo bata indiana) e olhos fortemente delineados são superfashion. Ou ainda que talento combina com sofrimento. E que homem, se lhe pareceu canalha uma vez, canalha será sempre. Ah, sim, e que mais perigoso do que dirigir bêbada é dirigir Brasília trocando fita-cassete. Ok, ok, foi só piada. Talvez a gente só precise se dar conta de que não vale a pena se levar tão a sério e que nossos sonhos são importantes, mas sonhar sozinho pode ser, de fato, muito solitário. Além de escolhas, a vida, sabemos bem, é feita de ajustes. E Maysa não soube - ou não quis - se ajustar.
Por Cláudia Cecília. jornal O Dia
2 comentários:
Bom dia!
aprendi a gostar de Maysa, ainda criança, meu pai era fâ de suas músicas e dela. Acho q além de não querer se ajustar, a sociedade a cruficou por suas escolhas! Mas é bom ver na TV, algo q não endeuse um idolo que morreu, mas mostre a realidade, por isso o publico se identifica.
Bjuss!
Oi, Kassya!
Verdade! Ela não deixou muito espaço para mitificação... A gente faz muitas bobagens ao longo da vida, mas para as mulheres essas bobagens pesam mais, para as mães os erros são redimensionados, mas o talento era tanto que sobrepujou tudo isso.
A trajetória de Maysa apresentada nesse trabalho e a reação de algumas pessoas me fez lembrar um outro ídolo da transgressão: Cazuza.
Ambos tinham tudo pra não sobressair acima da média burguesa de suas origens.Ambos transgrediram e se viam ora como o que eram idolos, ora como seres muito frágeis. Não eram santos, mas se tornaram deuses! Ambos deixaram uma arte incontestável.
Aprendi a gostar de Maysa ouvindo discos antigos perdidos na minha casa quando eu era adolescente, até hoje tenho uns 78 rotações dela. Tanta tristeza me comovia mas era a voz que me congelava
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