18 de set. de 2009

Procurando Clichê

Procurava pelo sentido da palavra clichê. Não clichê de coisa batida, conhecida repetida sem novidade, mas o clichê do qual eu tinha uma vaga lembrança de infância. Aquelas letrinhas isoladas, parecendo um estêncil, que uma pessoa ia colocando uma ao lado da outra pra formar palavras e compor um texto impresso.

Eu jamais pensei em ser jornalista, mas sempre me fascinou a idéia de que um jornal inteiro era composto de pequenas letras, organizadas conforme o pensamento de alguém e essas pequenas letrinhas colocadas em linhas formavam palavras, frases, parágrafos e iam crescendo até formar uma edição! Quando criança nada de papel me parecia maior que uma folha dupla de jornal... E nessa época o jornal da hora era o JB e eu achava que pesava mais de um quilo. Tinha gente que só o comprava nas ocasiões de mudança. Um JB embalava toda a louça de uma família! Era tão grande!

E era todo composto de pequenas palavras enfileiradas pela mão de alguém que deu forma concreta às idéias de outra pessoa. Essas idéias iam se avolumar na mente de outras pessoas e seriam incorporadas a mais uma mente e passaria a ser defendida por mais uma boca. Mas se não houvesse aquela mão operária? As idéias formadas letra a letra teriam mais dificuldades de estarem perfiladas e organizadas a fim de instalar-se em uma sociedade... Era o que eu ficava a imaginar quando via alguém lendo um jornal no ônibus. Eu não sei quantos anos tinha, nem sei se nesse tempo o jornal era feito dessa forma, imagino que não, que essa coisa de clichê deve ter sido um troço do tempo das diligências de velho oeste americano! Mas esse pensamento me fascinava e jamais abandonou-me e até hoje não sei o que é mais fascinante as letrinhas que saem da cabeça de alguém ganharem o mundo ou alguém que artisticamente perfila as letrinhas para que elas ganhem as cabeças do mundo...

Hoje tudo está muito sem graça, qualquer um digita e publica... Deve dar mais trabalho aos que gostam de ler selecionar aquilo que mais gostam de ler e conhecer aqueles que dizem aquilo que concordam... Navegando na internete, parece que tem mais gente a escrever do que pessoas para ler... Mas esse já é um pensamento adulto demais e nada encantador. Tomo o meu lugar no grupo dos que tiveram a vida facilitada pela tecnologia. Ponho-me a digitar e na minha cabeça vem as imagens que nunca vi: um tipógrafo a enfileirar seus clichês...

PARTE 2:
Eu procurava, "gugando" é claro o significado da palavra clichê e deparei com um texto de Eliane Brum, na revista Época on line, este aí de cima que você ja deve ter lido.

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