24 de out. de 2009

= O PIANO =

Sabe? O corpo me atrapalha.
Pesa-me ter de carrega-lo.
Me asfixia.
Parece uma gaiola,
parece uma cela minúscula,
apertada, sem ar.
O cérebro parece demasiado pequeno
para abrigar informações que estão
em alguma parte de mim, no entanto ele,
limitado não tem espaço para descobri-las.

Eu sei muita coisa que não posso dizer
não as digo porque as palavras não exprimem.
Parece que existe outro alguém
morando dentro de mim que não encontra
local por onde sair, exprimir, se expor.
É como estar diante de um piano,
com a melodia na mente e não poder toca–lo,
O som não abrange a melodia,
o instrumento não é apropriado.
Ele é o único disponível,
carrega-se este enorme fardo por onde se vai...
Largar o piano? Nunca!
Ele é a derradeira possibilidade de vir a se compor a melodia.
Ele é a esperança de que um dia a música se faça ouvir.
O piano só poderá ser abandonado quando substituído por outro instrumento.
Como identificar-me-ão?
Como saberão que pretendo compor,
manter esse cérebro até que ele se abra,
até que se encontre porta,
a saída por onde escoe
o que vive vivo, acordado,
trancado aqui dentro.

24-25/11/1994

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