5 de jan. de 2010

Homília


Acordei pensando no quanto é possível desamar em nome do amor. Claro que isso não é um bom pensamento para a 1ª terça-feira de um ano extremamente novo! Mas claro que não tivemos acontecimentos dignos de um ano tão novo também. Eu li em algum canto da internet o Affonso Romano Sant'Anna dizendo que Deus erra e citando as vezes que Ele (Deus, é claro!) errou e que errar é humano e que dizem que o demônio é parte de Deus... Poeta danado! Por associação estamos todos iguais, Nós Deus e o Demo! E é bem assim mesmo.

O bom de escrever é isso: Chegamos onde não é permitido aos mortais e ainda assinamos embaixo e deixamos escrito, ainda que no dia seguinte acordemos pensando tudo diferente, para esses casos inventaram a imprensa e as entrevistas...

Estou achando este texto muito prático para um "reino elemental", mas é que nós mulheres temos tido tantos problemas... O Casa de Fadas não é mais o mesmo e quem o seria  depois de viver alguns minutos nessa vida, nesse mundo? E eu não consigo esquecer as tragédias que a TV não deixa de nos lembrar. E tive também pensamentos extremamente maus:
No dia 31/12/2009 eram 18 o número de vítimas das chuvas no Rio de Janeiro. Ontem passavam de 50 só em Angra. A menina de 3 anos salva pelos bombeiros ainda com vida, não permaneceu assim por muito tempo e toda a família foi enterrada no domingo dia 03 e não vi mais nenhum comentário a respeito. O mesmo para uma família da comunidade de São Sebastião em Jacarepaguá. Conversei com  a minha faxineira e ela falou-me que pensava que estes fatos tivessem acontecido na Baixada Fluminense. É triste ser pobre em Cascadura e Jacarepaguá onde a tragédia parece desolar menos que em lugares mais distantes e inóspitos...(eu juro que não vou dizer mais ricos, nem que o país viu perplexo que ricos não morrem somente de desastres aéreos e que o descaso abraça a todos os cidadãos desse país. Não, meus amigos, não direi nada disso! Não estou dizendo isso!)

Foi muito triste demais ver a tristeza dos bombeiros que salvaram a menina e que viram a vida (ou seria Deus?) descumprir a sua parte...
É triste não saber quais providência estariam tomando nossas autoridades aqui, pois lá em Angra, providências importantes foram anunciadas pelo prefeito.
As tragédias dos desabamentos igualaram no desespero da perda, no caos da dor, no suplício,  ricos e pobres. Os fatos parecem trazer mensagens subliminares que não conseguimos saber como os ler, pois que fatos duros nem sempre são boa pedagogia, por serem rejeitados por nossa cognição.
Nossa cidade desaba e joga vidas ao mar.
Nossa sociedade corroída joga vidas ao relento.
Nossas autoridades corrompidas, corruptas ou não, movem-se com a lentidão da falta de entusiasmo cada vez menor à medida que se afastam das urnas eleitorais.
Os morros perderam a poesia, descendo em avalanches de tudo - gente, lixo, entulho, caos, lama - para o asfalto.
Esse é a postagem que eu jamais gostaria de um dia escrever, mas o que fazer, se as notícias doem e não temos a quem recorrer?
Uma prece aliviaria, mas concordo com o poeta-escritor Afonso Romano de Sant'Anna e seu nome santo, que disse em algum lugar que não consigo lembrar, que Deus também erra e que errar é humano!
Hoje não habito por esse momento O Casa de Fadas, pois que fadas não são tristes e encontro-me na profunda tristeza da impotência com alguma culpa por ter sobrevivido a algumas perdas supostas, posto que, perdemos sempre a cada minuto que  vivemos e para não ser demais pessismista, proponho a troca dos verbos: de perder para trocar.
Troco então a frase "feliz ano novo" pelos votos de "força amigos!" Força a todos que não tiveram motivos de felicidade nesses primeiros dias do ano.
Eu sei que algumas coisas são definitivas, mas eu sei também que podemos defini-las de modo a continuar vivendo da melhor forma que podemos.
A cidade desmorona, o mundo desaba e algo espatifou-se dentro de mim, no entanto declino neste momento o egoísmo ainda que lírico, próprio dos que romanticamente escrevem. Não falarei sobre os meus desmoronamentos pessoais, nem sobre a minha vida eternamente em construção como a Catedral de Barcelona:  inacabada,  em restauração sem que nunca tenha sido finalizada a sua construção. Existe sim, uma diferença entre o que não está pronto, entre o que jamais estará pronto e o que está em ruínas. Ainda assim não deixa de ser inusitado a restauração do patrimônio inacabado e este é um exercício e desafio diários de nós todos humanos... Não falarei aqui que vim para escrever até ser assolada por poetas e notícias. Aproveitarei o meu excesso de problemas da modernidade feminina para lavar a louça e ver TV à tarde.
Força a todos que neste momento pensam que poderão não conseguir!
Confesso que muitas vezes diante de tragédias muito menores, corriqueiras e insistentes eu dou-me a esse luxo de querer fugir, desertar e às vezes morrer, mas são momentos em que não avaliamos o que seja de fato morrer... Logo depois tento pensar que nada teria valor se eu perdesse todos os dias a batalha que de alguma forma aceitei para mim e que por sorte me livra de tantas outras guerras que certamente eu perderia.
Abraço fraterno

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