2 de mai. de 2012

EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS

Direção:  Beto Brant/Renato Ciasca

"EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS" é um livro de Marçal Aquino que eu não li.
"EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS" é um filme que eu vi ontem. Não posso dizer se é bom ou não. Sou fiel à minha religião que tem como mandamento fundamental a máxima que não existe expressão artística boa ou ruim, apenas ao alcance da nossa sensibilidade e entendimento ou não. Há manifestações de arte que entendemos cerebralmente, outra intuímos, com outras nos identificamos e há aquelas incontestáveis para o bem ou para o mal... O produto da arte assim como os  filhos devem ser julgados e explicados somente por quem os pariu, mais próximos que estão da visão de universos que neles impregnaram e, mesmo assim, nem sempre isso dá certo...
Criticar é um direito de todos, mas particularmente,  penso que crítico por excelência é uma praga mais ou menos danosa ou ofensiva conforme o seu nível de frustração em relação ao objeto que se propõe criticar.

Assim, confesso que deste filme tenho a dizer que fiquei muito perdida. Não posso comparar a obra cinematográfica ao livro que não li, mas alguma coisa que seria importante pro meu entendimento (que não é lá essas coisas) ficou presa em alguma(s) página(s) do livro e não chegou ao filme.
Começando pelo que eu gostei e entendi:
Camila Pitanga e a fotografia.
As demais atuações são boas sim, mas o filme é Camila.
Achei o roteiro um mosaico onde todas as cores se encaixam, mas seu  sentido nem sempre flui harmônico.  Personagens dispostos a cumprir os seus destinos e que estes estavam traçados com base em decisões já tomadas, eles não tinham disposição de mudar suas vidas.
Lavínia/ Lúcia (Camila Pitanga) prostituta, bêbada, drogada e linda mesmo quando jogada na sarjeta,  recolhida e salva dessa desgraceira por um pastor evangélico com passado parecido, com a diferença que teve oportunidade profissional enquanto que ela, um produto de abuso sexual e violência, que ao fugir não encontra referência e vai assim vivendo sem encontrar no mar  alguma mecha de cabelo para se agarrar - náufraga.



Cauby (Gustavo Machado) Fotógrafo de uma revista, de passagem pelo interior da Amazônia, com tendência zero a seguir conselhos, predisposto a seguir seu coração. Teimoso que só. Percebe o fim de uma história, pressente o início de outra, despreza os riscos e parece acreditar que realmente quem não tem culpa não poderá ser considerado culpado. Sei lá porque vendo-o caracterizado, eu  não parava de pensar no Marcos Palmeira...


Ernani, o pastor  (Zé Carlos Machado) Acredita que pode mudar o mundo com sua oratória veemente e sua fé naquilo que o salvou, que o amor é capaz de libertar pelo perdão ou que quem ama a tudo é capaz de perdoar.

Viktor Laurence (Gero Camilo) Com este nome interessante, já na sua primeira aparição mostra que vai aprontar decisivamente na trama e o faz de modo decepcionante, não pela atuação do ator, mas porque o que faz é narrado, o como fez é mostrado numa passagem rápida e o porque fez fica a critério da nossa capacidade de dedução . Suas récitas bonitas e dramáticas,  até podem inferir numa personagem que está ali para conspirar, confundir e não para entender e explicar.

Juntando tudo isso, imagino que Cauby se relacione tão amiúde com Viktor por certa inadaptação ao ambiente rude, de valores precários e pragmáticos. Porque Cauby não foge quando aconselhado, talvez porque ele acredite que ao inocente não cabe castigo. Faz todo sentido sua visão a história de Lavínia com Ernane já ultrapassara o ponto final, que é hora do trio começarem novo capítulo e sem ela dali ele (Cauby) não sai, dali ninguém o tira! Ele que é fotógrafo quer viver a beleza e paixão que até  então "dormiam" em cores estáticas nos seus cliques.
Que Lavínia tenha dúvidas é compreensível afinal,  abandonar a pacificação e sossego que lhe chegou  pela via espiritualidade e se manteve pela carne na sua vida com Ernane não é uma opção fácil para alguém que não deve saber seria  felicidade é liberdade para escolher ou  se é aceitar eternamente as tranquilidades que a vida lhe entregou...



E quando a gente pensa que tudo vai dar em tragédia, eis que surge hecatombe! Dá pena de ver tanta punição e castigo sem entender quem puniu e porque.

O passeio de Lavínia e Cauby em cenários maravilhosos talvez demonstre a necessidade dele em viver extra-muros a sua relação caliente com a moça. A cena da "feiticeira" percussionista (não sei o nome correto)  talvez quisesse levar à idéia de que eles ansiavam por viverem  uma espiritualidade não cerceada pela bíblia e que todo ato carnal tem lá as suas ebulições do espírito. O palhaço que era pistoleiro ficou tipo um remendo para evocar uma tragédia iminente, mas como decepciona saber que aquela simpática embora pouco agradável figura não era só palhaçada! O policial personifica a humanidade do local brutal de poucos conceitos e valores devastados.



Concluo que a "vibe" do filme é falar do amor de pessoas nunca antes voltadas para ele, em  um local sem o menor espaço para delicadezas. Onde política agrária, meio ambiente, devastação da floresta, poluição ocasionada pelo mercúrio do garimpo e fervor religioso fazem parte da climatização de um ambiente inóspito.

Chama a atenção as cenas de sexo bem feitas e tão contextualizadas que cativam, recheadas de erotismo.
Camila! Camila!
Surpreende nos seus 4 momentos - caída, "bipolar", estabilizada, idiotizada. Sim, esse filme foi feito para ela sobrar, encantar, impressionar!






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